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sábado, 5 de junho de 2010

Alfabetização

Autora: Izabel Sadalla Grispino *

A competência profissional é fator de sucesso em qualquer setor da atividade. Há anos, a fala governamental se dirige aos analfabetos adultos, na pretensão de eliminar o analfabetismo, programando-lhes passaporte para a escrita e a leitura.

Mas, os analfabetos continuam e cada vez mais em número crescente. Acontece que os programas governamentais partem de um pressuposto falho. Acha o governo que qualquer pessoa que saiba ler e escrever pode alfabetizar um adulto. O adulto, já cristalizado em seus hábitos, quer por vergonha, quer por falta de tempo, quer por medo de não conseguir aprender, reluta em se alfabetizar. Acaba por desistir. Muitos já tentaram sem sucesso e chegam a se considerar incapazes, sem inteligência.

Alfabetização de adultos não é mera obra de voluntários, mesmo que tenham boa vontade. Sem o sentido de profissionalismo, sem o devido preparo pedagógico para entender as bifurcações que levam à alfabetização, não chegarão lá. Pelo fato de o adulto ter alcançado a última fase do desenvolvimento cognitivo, capaz de raciocínio, de abstração, de reversibilidade, o processo do conhecimento não é tão simples. Esse adulto não foi estimulado na fase própria da aprendizagem, tem a inteligência pouco trabalhada e, quase sempre, interiorizado um sentimento de incompetência, de vergonha, quando não, de culpa por não saber ler.

Aí é que entra a força da didática centrada na formação do alfabetizador. É preciso capacitação específica para alfabetizar. Um professor que leciona em cursos mais avançados e que nunca alfabetizou, não recebeu treinamento nessa área, vai ter, inclusive, dificuldade em alfabetizar. Na formação do professor, reside o maior entrave para os cursos de alfabetização de adultos. Um professor, com conhecimento em alfabetização, saberá conduzir, facilitar o aprendizado e passar estímulo, para que o aluno continue aprendendo pela vida afora.

A LDB impõe a necessidade do curso normal superior como formação mínima para o exercício do magistério na área de educação infantil. O professor precisa ter uma boa formação para não atropelar o processo de desenvolvimento da criança e conduzi-la, com serenidade, à aprendizagem. Vários são os métodos adotados, porém, em todos, o atendimento individual, a observância da autonomia na aprendizagem, a participação ativa da criança na construção do conhecimento, são procedimentos comuns a todos. Privilegiam os métodos ativos que mantenham uma interação fecunda professor/aluno.

O socioconstrutivismo tem sido um dos métodos mais praticados nas escolas. Emília Ferreiro é o ponto de partida da orientação socioconstrutivista, que se encontra mesclada pelas linhas básicas de pensamento de teóricos, que defendem uma visão integrada do desenvolvimento humano, como Jean Piaget e Lev Vigotsky. Vigotsky atuou mais na área da psicologia e da neurologia. Piaget descobriu que as crianças não pensam como adultos, têm sua própria ordem e sua própria lógica. Para a pedagogia tradicional, elas eram como “recipientes” a serem preenchidos com conhecimentos. Piaget demonstrou que as crianças são ativos construtores do conhecimento. Para ele, o conhecimento resulta da interação entre o sujeito e o mundo. Mundo em que o sujeito não é passivo e o conhecimento não é cópia, mas construção ou elaboração do mundo, é “assimilação da realidade”. O sujeito e o conhecimento se constroem. Para haver aprendizagem não basta a transmissão da informação por mais competente que ela seja, como fazia a escola tradicional. É o sujeito quem, fazendo relações, associando o novo ao já conhecido, vai construindo o conhecimento, segundo a sua estrutura de formação. Piaget procurou decifrar as fases do desenvolvimento mental. A criança é um ser que interage com a realidade e assim forma suas estruturas mentais. É referência obrigatória.

O método Montessori, criado pela médica italiana Maria Montessori (1870-1952), iniciou-se com o desenvolvimento de técnicas para ensinar crianças excepcionais. Parte do pressuposto de que a criança é dotada de infinitas potencialidades e é capaz de autocrescimento. Seu método foi chamado de "Escola do Silêncio”, por estimular a concentração, a introspecção e a integração social. As atividades são propostas levando-se em consideração as peculiaridades da criança. Na relação professor/aluno, as atividades são sugeridas e orientadas, deixando que a própria criança se corrija.

Um outro método que vem ganhando espaço é o Waldorf, também chamado de antroposófico. O nome Waldorf surgiu pelo fato de as primeiras alunas de seu fundador, o alemão Rudolf Waldorf (1861-1925), serem funcionários da fábrica Waldorf Astoria, na Alemanha. O método trabalha a criança conjuntamente no seu desenvolvimento físico, social e individual. As turmas se dividem por faixa etária e não por série. Não há repetência e a relação da escola com os pais é muito grande. Evita-se o máximo a troca de professores, que devem acompanhar a mesma turma por um período de 7 anos.

Essa pequena explanação elucida o quanto o professor deve conhecer, estudar, praticar, para exercer, em bom nível, a alfabetização.

A alfabetização de adultos atingiria o seu objetivo se pudesse contar com professores preparados para esse fim, como já se faz com a alfabetização das crianças.

* Supervisora de ensino aposentada.
(Publicado em fevereiro/2004)

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